PROJETO DE PESQUISA REALIZADO COM OS ALUNOS DO LYCEU PARAIBANO
CONHECENDO
A HISTÓRIA DA PARAÍBA ATRAVÉS
DOS SEUS MONUMENTOS:
Pesquisa de campo em monumentos não conservados, Basílica de
Nossa Senhora das Neves e Primeira Igreja Batista em João Pessoa
APRESENTAÇÃO
O historiador é fundamental em todos os
segmentos culturais, pois ele investiga, questiona e auxilia na busca de
conhecimento, desvendando as particularidades de diferentes espaços e períodos
vividos pela humanidade, como diz uma frase célebre: “Um povo sem História, é
um povo sem memória”.
A ligação com o cotidiano está tornando a
História cada vez mais atraente para o grande público. Revelando a importância da memória histórica como resgate da heterogenia
de povos. Contestando o processo hegemônico do binômio
globalização/neoliberalismo e sua meta de transformar o mundo numa aldeia
global, despertando assim uma carência de investigação na história regional, pontuando
vivências cotidianas e sentimentos de pertencimentos específicos.
É imprescindível tomar
consciência do papel que cada um pode e deve representar na sociedade
brasileira, em busca de identidade própria. Aceitar as diferenças sem
preconceitos e lutar pela coesão social de pensamento, objetivando a conquista
do bem comum são outras providências. Para tanto, é necessário uma conscientização
histórica, revelada através da memória para que com as experiências do passado
possamos aprender, no presente e buscar um futuro mais promissor.
É através da experiência
vivida no passado, dos erros e acertos, das ilusões e desilusões, das
ideologias e utopias, dos sonhos e das realidades, das verdades e mentiras, das
buscas e desistências, dos medos e das coragens, enfim, de tudo que se viveu,
sentiu ou pensou que se pode corrigir, no presente, objetivando melhorar no
futuro. Tudo isso só é possível se o historiador lançar mãos dos diversos tipos
de fontes, pois, nem tudo está escrito.
Sobre história, sociedade,
economia, política, religião e arte existem diversos aspectos que podem ser
estudados e desvendados em nossas cidades, basta somente um direcionamento de
pesquisa e pesquisador, professores e alunos para que novas concepções venham a
existir, conceitos sejam revistos e a História ganhe novos horizontes, na
construção cotidiana. Temos como exemplos os monumentos históricos, ou que
fazem parte da História da nossa cidade como a Basílica de Nossa Senhora das
Neves, A Primeira Igreja Batista, alguns casarões não conservados, entre
outros. Sobre eles, deixarei um
pouco mais de informações a seguir.
A BASÍLICA DE
NOSSA SENHORA DAS NEVES
A
Igreja de Nossa Senhora das Neves está ligada diretamente a conquista da
Paraíba, pois foi nesse local, no alto da colina, que nos idos de 1585, os
colonizadores fundaram a primeira igreja dedicada a Virgem das Neves.
Através
do estudo sobre esse monumento, podemos abordar os seguintes pontos: relação
igreja-estado, padroado português, importância da religião nas conquistas
portuguesas, estilos artísticos, hábitos sociais e barroco colonial.
Nos
primeiros 400 anos de presença européia nas Américas, a Igreja Católica tinha
um campo limitado de atuação, embora tivessem ocorrido insubordinações por
parte de bispos e clérigos que não aceitavam a intervenção do Estado em
questões religiosas. Durante o período Colonial e depois da independência, a Igreja
dependia economicamente do poder estatal, não lhe cabendo o direito de
contestar a ordem vigente. Quando isto acontecia, a repressão não tardava,
através de prisões ou degredos. A criação das dioceses, o recolhimento do
dízimo e o pagamento do clero eram atribuições do Estado, em virtude do
padroado (BRUNEAU,1974. p. 31).
Padroado é a
outorga, pela Igreja de Roma, de certo grau de controle sobre a Igreja local ou
nacional, a um administrador civil, em apreço de seu zelo, dedicação e esforços
para difundir a religião católica.
PRIMEIRA IGREJA
BATISTA
O templo atual apresenta um estilo arquitetônico
neoclássico de marcante beleza, encontrando-se localizado na Av. Pres. Getúlio
Vargas, s/n – Centro. A história da Primeira Igreja
Batista em João Pessoa inicia com um grupo de oito irmãos vindos de outra
denominação evangélica, que depois de lerem e comentarem juntos o capítulo 3 do
Evangelho de João, com referência ao batismo de Jesus procuraram ouvir mais, de
alguns crentes batistas residindo na capital paraibana, sobre as diferenças do
modo de batizar. Manifestaram então o desejo de serem submetidos ao batismo por
imersão, como acreditam os batistas. Juntos, os dois grupos mandaram convidar o
Pr. João Borges da Rocha que dirigia a Primeira Igreja Batista do Recife, a fim
de ouvir mais sobre o assunto, e consultar sobre o que fazer se não havia ainda
na cidade, qualquer congregação batista organizada. Na
memorável noite de 19 de janeiro de 1914, também com a presença do missionário
norte-americano Donaldo Lee Hamilton, reuniram-se em uma casa na antiga rua da
Independência em Jaguaribe, hoje, rua Capitão José Pessoa, dirigem um Culto a
Deus e após, realizam uma assembléia onde se fez ouvir a declaração de fé de
vários irmãos, com promessa de carta demissória de suas igrejas, e o pedido de
profissão de fé daqueles outros, vindos de outra denominação. Depois de
ouvi-los, suspende-se a assembléia, seguindo todos até o Rio Jaguaribe, onde
são batizados às 21h. O grupo retorna a casa do culto. Aí então, os irmãos, com
os pastores presentes, declaram e proclamam a instalação e fundação da PRIMEIRA
IGREJA BATISTA DA PARAÍBA.
Durante o período colonial, apenas
o cristianismo praticado pela Igreja Católica Romana era permitido em terras
brasileiras. Gilberto Freyre já assinalou em Casa Grande & Senzala que o
único requisito que a coroa não abria mão para permitir a vinda de reinóis para
a colônia era a profissão da fé católica. A forte presença de ingleses no
Brasil a partir de então levou ao reconhecimento por D. João do direito dos
britânicos, a maioria anglicanos, de celebrarem seus cultos religiosos. A
fórmula consagrada nos tratados de “comércio e amizade” e na constituição de
1824 foi autorizar a realização de cultos no interior de casas sem aparência
externa de igrejas e na língua do celebrante, isto é, em inglês, de modo que
não houvesse proselitismo com os nacionais. Sob esta legislação atravessamos
todo o século XIX, com o agravante de que apenas os casamentos em igrejas
católicas eram reconhecidos, não havendo sequer o casamento civil, e os
cemitérios seguiam administrados também pelos seus templos. A proclamação da
república consagrou em definitivo os instrumentos jurídicos que separaram
a Igreja do Estado e implantaram a liberdade religiosa.
JUSTIFICATIVA
De
acordo com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)- Lei nº
9.394/96 – artigo 26, que enfatiza sobre a parte diversificada dos currículos
do ensino fundamental e médio, deve-se observar as características regionais e
locais da sociedade e da cultura, o que possibilita uma abertura para a
construção de uma proposta de ensino de História Local, voltada para a divulgação
do acervo cultural de municípios e Estados.
Conhecer a história de sua cidade e saber comunicá-la deve ser papel
fundamental na vida dos moradores de cada região. Quando se busca conhecer mais
sobre algo, percebe-se o quanto é importante esse ato e como há profundidade e
significado no que existe ao redor. Não deixando de lembrar que o povo
paraibano como dizem os turistas, é bastante acolhedor e disposto a dar
informações a qualquer pessoa que visite este lugar, onde o sol nasce primeiro. Percebendo essa qualidade tão
importante na história de nossa coletividade, procurei entender os motivos que
levou o alunado e também moradores da região a não ter a mesma disposição para
dialogar sobre a história do nosso estado, particularmente sobre os monumentos.
Após
muitos diálogos ocorridos durante os dias de participação do planejamento
escolar anual em fevereiro de 2012, percebi que essa dificuldade existente para
a argumentação, está explícita na falta de sentido de pertencimento de alguns,
a falta de estudos sobre os monumentos de nossa região por outros e acima de
tudo, falta de valorização da história local sobrepujada sobre a História do
Brasil em geral; conseqüência dos exames de âmbito nacional, a exemplo do ENEM.
Diante do
exposto, objetivando minimizar essa lacuna cultural em nossos alunos, busquei a
pesquisa da memória arquitetônica, monumentos, e levantamento da história não
escrita, oral, do estado da Paraíba, inicialmente estudando a cidade de João
Pessoa. Fundamentando nossa proposta, Meihy (1998), informa que
“De início a história oral combinou três funções complementares:
registrar relatos, divulgar experiências relevantes e estabelecer vínculos com
o imediato urbano, promovendo assim um incentivo à história local e imediata”
(MEIHY, 1998, p.22).
“A história oral possibilita a construção e a reconstituição da história
por meio dos relatos individuais ou coletivos”. (REINALDO, A.M.S.; SAEKI, T.;
REINALDO, T.B.S., 2003, p. 55)
Pensei
então, na possibilidade da elaboração deste projeto educacional, buscando
proporcionar a esse aluno, pesquisar in loco e compreender um pouco mais sobre
a história do nosso estado. E assim, estarei levando os alunos a terem novas
experiências, valorizando também a história oral, fonte imaterial de vivências
e experiências, muito importante para a sociedade. Com a história oral,
Ferreira (1998) destaca
“Em linhas gerais, revalorizou-se a análise qualitativa, resgatou-se a
importância das experiências individuais, ou seja, deslocou-se o interesse das
estruturas para as redes, dos sistemas de posições para as situações vividas,
das normas coletivas para as situações singulares”. (FERREIRA, 1998, p.4)
Dentro
desse pensamento, desenvolvi o projeto específico para ser executado em sala de
aula, através de reuniões e orientações, como também pesquisando em campo.
OBJETIVO
GERAL:
Despertar o
corpo discente para uma maior compreensão da história local, através de
pesquisas de campo em monumentos históricos.
Conhecer o modo de vida de diferentes grupos, em
diversos tempos e espaços, com suas manifestações culturais, econômicas,
políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles,
continuidades e descontinuidades, conflitos e contradições sociais.
Valorizar o patrimônio cultural local, respeitando
a diversidade religiosa e social.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Analisar a importância da religião, economia,
política e sociedade para a formação da identidade e cultura do nosso povo.
Destacar a importância dos monumentos históricos e
sua arquitetura, para um maior entendimento do meio social em que estamos
inseridos.
Questionar a conservação e recursos financeiros dos
monumentos históricos selecionados.
Conhecer histórias de vida das pessoas e do
município, através dos temas transversais – Cidadania, pluralidade Cultural,
religião e Ética.
Criação de diários de campo, pelos
alunos participantes do projeto.
METODOLOGIA
Santos (2000) definiu metodologia como um conjunto de procedimentos
necessários para a realização de uma pesquisa científica e emerge, a partir das
antecipações mentais, o momento em que se inicia o processo de racionalização
das ações em torno da questão a ser solucionada. Os procedimentos realizados
foram os mais diversos possíveis. Organizei
grupos de pesquisa nas turmas e coloquei um líder para repassar as informações
dadas em cada reunião que fiz. Observação simples, fotografias e
questionário semi-estruturado, foram também orientados em cada etapa distinta.
Foram realizadas além da pesquisa de campo, onde os alunos foram até os
lugares que estavam propostos no projeto, pesquisa bibliográfica visando
coletar dados e relatos existentes em livros, periódicos e publicações (como
teses, monografias e demais artigos). Eles utilizaram a internet também como
meio de conhecerem mais sobre a história local e o monumento em estudo. Tais
estudos objetivam construir uma base teórica para, posteriormente, servir de
apoio à formulação do questionário que foi aplicado.
Como os questionários são meios mais práticos e permite o completo
anonimato do respondente (COZBY, 2003), estes foram elaborados com formato
semi-estruturado, ou seja, possuindo questões abertas e fechadas, oferecendo
oportunidade ao participante de alocar maiores informações além daquelas
sugeridas pelos entrevistadores (SANTOS, 2000). Porém,
os alunos também puderam fazer durante a entrevista, algumas perguntas mais
descontraídas, surgidas no momento e bem articuladas por eles. Além disso,
fizeram anotações pessoais no diário de campo, descrevendo com detalhes algumas
situações que marcaram suas reuniões. A
avaliação do aluno participante do projeto se deu de maneira contínua
diagnóstica através da participação em sala, nas atividades orais e escritas, e
fora dela, nas pesquisas de campo, diários organizados, fotos, entrevistas
feitas e na exibição do resultado do trabalho na escola. Esta
avaliação foi sempre com o objetivo de verificar se o aluno estava realmente
compreendendo os assuntos abordados na pesquisa, para então poder seguir para
os passos existentes em cada etapa. Na semana final do projeto, ocorreu a
exibição dos resultados de cada sala em apenas um dia, devido termos
anteriormente a semana cultural na escola.
CRONOGRAMA:
ATIVIDADES REALIZADAS
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MESES
/ 2012
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Maio
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Junho
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Julho
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Agosto
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Entrevista
com alunos
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X
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Apresentação do projeto
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X
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Levantamento bibliográfico
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X
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Solicitações
de ofícios na escola
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X
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Agendar
visitas ao monumento
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X
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Observação
direta
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X
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Entrevistas
com responsáveis
pelo monumento
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X
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Conclusão
final do trabalho
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X
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Confecção
de relatórios e diários de campo
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X
|
X
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Apresentação
dos resultados
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X
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BITTENCOURT,
Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e Métodos. São Paulo.
Cortez, 2004.
BRUNEAU,
T. C. O catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola, 1974.
CANTO,
A. C. L. 2006. Educação Patrimonial aplicada nos trabalhos de arqueologia do
Antigo Engenho Paul (PB): um estudo integrado. Resumos da I Jornadas do
Patrimônio Cultural no Espírito Santo, 2006, Vitória –ES.
IANNI, Otávio. A sociedade
global. 10. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
PEREIRA,
Aldiceia M. A importância da história local para o ensino de História: um olhar
para o município de duque de Caxias. 2011.
REINALDO,
A.M.S.Reinaldo,; SAEKI, T.; REINALDO, T.B.S. - O uso da história oral na
pesquisa em enfermagem psiquiátrica: revisão bibliográfica. . Revista Eletrônica de Enfermagem,
v. 5 n. 2 p. 55 – 60, 2003. Disponível <http:/www.fen.ufg.br/revista>
Acesso em 10/05/12.
SCCUOGLIA, Jovanka Baracuhy Cavalcanti; TAVARES, Marieta Dantas.
Patrimônio: Lazer & Turismo, v. 6, n. 8, out.-nov.-dez./2009, p.12-33.
FOTOS DAS ETAPAS DO PROJETO:
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REUNINDO COM OS PROFESSORES PARA ORGANIZAÇÃO DO PROJETO |
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ORIENTANDO OS ALUNOS NO PROJETO |
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ALUNA COM DIFICULDADES AUDITIVAS CONVERSANDO SOBRE O PROJETO COM A INTÉRPRETE |
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CONFECCIONADOS BANNER |
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ALUNOS COM DIFICULDADES VISUAIS |
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PEÇA DA TURMA 2º ANO 9 |
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CONFECÇÃO DE DIÁRIOS DE CAMPO |
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TRABALHO DE PESQUISA DAS SALAS DIGITADO E JUNTO COM DIÁRIOS DE CAMPO |
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SALA 2º ANO 10 VISITANDO A BASÍLICA DE NOSSA SENHORA DAS NEVES |
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PEÇA 2º ANO 10 |
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ALUNOS EM CONFRATERNIZAÇÃO DEPOIS DAS APRESENTAÇÕES |
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EXPLICANDO O PROJETO PARA OS VISITANTES |
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PROFESSORES VISITANDO AS SALAS |
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PEÇA TURMA 2º 11 |
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PROFESSORAS VISITANDO AS SALAS |
O PROJETO FOI UM GRANDE APRENDIZADO PARA TODOS!!